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12.09.2011 - "Empresas devem focar emergentes"

12/09/2011

Diário Catarinense - 11/09/2011

 
A geografia do crescimento econômico global mudou e está direcionada aos países emergentes. Enquanto a Europa terá que resolver sua crise, os Estados Unidos e o Japão precisam ultrapassar mais uma recessão, os mercados dos países emergentes vão responder pela maior parcela do crescimento mundial. Esse cenário foi detalhado para investidores catarinenses pelo economista e estrategista de investimentos, Ricardo Amorim.

 
Ele fez palestra segunda-feira (5/11), em Florianópolis, em evento promovido pelo condomínio empresarial de Palhoça Firenze Business Park, com apoio da CBN Diário. Na avaliação de Amorim, a crise europeia deve piorar, mas causará menos impactos ao Brasil do que a de 2008, e o setor exportador é o que mais vai sofrer. Segundo ele,as empresas devem olhar para os mercados emergentes, o setor imobiliário é um dos que mais vão crescer no país, na próxima década, e o varejo seguirá estável. Ao setor público sugeriu cortar gastos para evitar que o Brasil seja a Europa amanhã. 
 
 
O economista Ricardo Amorim é presidente da Ricam Consultoria, estrategista de investimentos, palestrante internacional e comentarista do programa Manhattan Connection da GloboNews. Graduado em Economia pela USP, tem pós-graduação em Administração e Finanças Internacionais pela Essec, de Paris, e trabalhou 10 anos nos Estados Undios e na França. Casado, pai de um menino de um ano, gosta de esportes, cinema, teatro, passeios no Ibirapuera, praia e viagens.
 
 
 
Como vê o futuro da atual crise internacional?
 
 
 
Ricardo Amorim – O mais preocupante é a situação da Europa. Se os Estados Unidos fossem uma ilha e não tivesse o resto do mundo, a gente não teria uma crise, mas uma recessão. Na Europa há uma crise porque há vários países com necessidades de financiamentos que dificilmente serão atendidas pelo mercado. Três já receberam ajuda – Grécia, Irlanda e Portugal – e há mais três que ainda não receberam – Bélgica, Espanha e Itália. Os problemas maiores são da Espanha, que precisa de 450 bilhões de euros só para o governo federal. A Itália tem dívida muito maior e dificuldades para cortar custos. Por isso, a probabilidade de o Banco Central Europeu aumentar a emissão de euros para comprar essas dívidas vai aumentar. Se eles não equacionarem isso, haverá calote de um ou mais países, com perdas bancárias importantes na Europa, que vai acabar exportando a crise para o exterior, como em 2008.
 
Pode haver falta de crédito?
 
 
Amorim – Acredito que sim. No caso brasileiro, a situação é melhor do que a crise anterior. Quando aconteceu aquela crise, num primeiro momento houve uma diminuição da oferta de crédito a bancos e empresas brasileiras, mas somou-se a isso um problema causado pelos derivativos cambiais de várias empresas. Como o problema com derivativos foi recente e a apreciação do dólar foi menor, a contração de crédito não vai ser na mesma proporção, mas vai acontecer.
 
No Brasil, quem vai sofrer mais se a crise lá fora se agravar?
 
 
Amorim – O setor exportador. É paradoxal, porque a crise vai gerar uma alta do dólar, que é tudo o que o setor quer. Mas quando a alta do dólar acontecer, os exportadores vão sentir porque lá fora acontecem duas coisas: uma grande queda de demanda em função da contração da economia, e a queda do preço das matérias-primas. O excedente de produção, mais barato, vai ficar no mercado interno e, junto com a redução da oferta de crédito, deve fazer com que a inflação caia. Foi com essa aposta que o Banco Central derrubou a taxa de juros na semana passada.
 
Como avalia o corte de juros?
 
 
Amorim – Acho que o Banco Central foi muito corajoso e, provavelmente, a estratégia vai dar certo. Mas o BC fez algo que eu nunca vi banco central nenhum do mundo fazer, que é se antecipar ao fato. Acredito que ele vai estar certo porque acho que a crise na Europa vai piorar. Agora, se eu estiver enganado, o BC cometeu um erro grave. Isto porque se a situação na Europa não piorar, a inflação no Brasil, que já estava alta, com esse estímulo da queda dos juros vai subir ainda mais. Soma-se a isso a preocupação de que a decisão foi tomada por razões políticas.
 
Qual é a importância dos países emergentes para o Brasil?
 
 
Amorim – Na minha avaliação, as empresas devem focar, prioritariamente, os mercados dos países emergentes e não os ricos. Além de acreditar que os países mais ricos vão passar por vários períodos de ajustes e de queda de demanda, eles também vão passar por um processo de desvalorização das suas moedas. Nos últimos 10 anos, a participação dos emergentes aumentou. O mercado que mais vai crescer é o asiático, seguido pelo africano e o latino-americano, que é o que menos vai crescer. Como é o mais próximo do Brasil, oferece a vantagem no custo do transporte. Mas o mercado brasileiro é o mais importante para as empresas nacionais e vai crescer muito. Isso não impede que ambas as oportunidades sejam aproveitadas, no Brasil, e nos emergentes.
 
Quais segmentos vão crescer mais no Brasil?
 
 
 
Amorim – Isso depende do período. Alguns dos setores que vão ser mais impactados, negativamente, no próximo ano, são os que mais vão crescer na próxima década. Quando há menos crédito, por exemplo, há um arrefecimento do mercado imobiliário, como em 2008. Mas os preços podem não cair porque pode haver uma maior procura por imóveis como proteção da crise. Esse é um dos setores que mais vão puxar o crescimento na década, mas é um dos que mais vão sofrer no ano que vem.
 
E o varejo?
 
 
 
Amorim – Menos dependente de crédito, o varejo, especialmente o de supermercado, deve manter um desempenho bom e relativamente estável. Isto porque depende de emprego e salário e esses dois fatores devem sofrer pouco com a desaceleração econômica.

 
 
 
Os EUA estão em recessão?
 
 
Amorim – A economia do país está voltando a um processo de recessão, a oferta de crédito está caindo e as empresas não estão fazendo investimentos importantes. O ajuste para resolver a dívida vai deixar a economia frágil no curto prazo e o ajuste vai levar anos.
 
 
Notas
 
 
Gastos
 
Cortar drasticamente os gastos públicos é a alternativa que o Brasil tem para não enfrentar problemas de dívida pública impagável no futuro, a exemplo do que está acontecendo com alguns países europeus. A recomendação é do economista Ricardo Amorim.
 
– A gente tem, via de regra, impostos mais altos que dos EUA e do Japão. Somam-se a isso políticas públicas que são muito boas para a qualidade de vida dos cidadãos, mas que do ponto de vista de competitividade não funcionam – afirma.

 

O desafio para o Brasil é aproveitar todo o ciclo favorável para cortar gastos públicos e reduzir impostos, recomenda.

 
Dinheiro
 
Os países ricos gastaram praticamente todos os instrumentos fiscais de resposta a crises. Reduziram os juros para perto de zero, mas, mesmo assim, vão ter que cortar gastos e aumentar impostos, o que agrava os problemas econômicos. Só sobrou uma alternativa a esses governos: imprimir dinheiro em quantidade que eles nunca viram na história. Ricardo Amorim diz que nos próximos meses a Bolsa brasileira terá dificuldades, mas, depois, vai subir mais do que em 2008 e 2009 porque o dinheiro que imprimiram vai acabar em compra de ativos nos mercados emergentes.
 
Duas falhas
 
 
Para o economista, o Brasil cometeu duas falhas nas medidas para enfrentar a crise de 2008. Uma foi que o BC deixou que o dólar se apreciasse muito mais do que deveria quando poderia ter usado as reservas internacionais de forma mais agressiva. Não fez isso porque viu uma boa chance de deixar o dólar subir um pouco e gerar uma situação exportadora melhor. Só que não sabia dos derivativos cambiais e do potencial de estrago que poderiam causar. A outra falha foi que, depois de alguns casos de derivativos, houve retração da liquidez. Como os bancos não sabiam quais empresas tinham o problema, cortaram o crédito de todo mundo e geraram uma crise de crédito no país.
 
Silvestre Lacerda - Assessoria de Comunicação AMCRED-SC - 12h55