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20.04.2012 - Crescer já concedeu R$ 1,2 bilhões de reais em microcrédito: o que os números escondem
20/04/2012
Edmar Roberto Prandini via Blog do Microcrédito
Enquanto estive no Ministério do Trabalho, dediquei-me a pensar na adoção de indicadores que pudessem subsidiar a avaliação dos resultados da política pública do microcrédito produtivo orientado. Cheguei a proferir palestra sobre esse tema, em Seminário do Programa Nacional de Microcrédito Produtivo Orientado.
Esta tarefa foi importante para sustentar outra, que foi a estruturação de uma ferramenta web para coletar informações sobre a atividade das organizações de microcrédito, que alimenta um banco de dados sobre a atividade no setor.
No dia 02 de abril de 2012, os meios de comunicação repassaram release do governo divulgando os números do Crescer, a nova fase do PNMPO. Ao contrário do relatório que produzíamos na coordenação do PNMPO, enquanto estive lá e depois, antes do lançamento do Crescer, a notícia foi construída de modo a ignorar quaisquer outras informações que permitam uma análise crítica dos primeiros resultados do Programa Crescer. Só se informa o valor de R$ 1,2 bilhões de reais concedidos e o valor médio de R$ 1,2 mil por microcrédito concedido.
Aparentemente, um sucesso estrondoso. Entretanto, quem acompanha o desenvolvimento da atividade no setor sabe o que a imprensa até sabe, mas esquece de considerar: o Banco do Nordeste do Brasil, através do programa Crediamigo, desde antes do Crescer, já alcançava um volume significativo de operações de microcrédito, com valores médios bastante baixos, e o fazia sem juros subsidiados, mediante a atuação dos agentes de crédito, diretamente trabalhando no atendimento de campo dos microempreendedores.
Sem os números, corro risco, mas pago para ver: passados seis meses da vigência do Crescer, o crescimento da base de clientes atendidos pelo Banco do Brasil e pela Caixa é pífio, quase irrisório, e os montantes divulgados ontem baseiam-se quase exclusivamente nos resultados do BNB, que não precisava do Crescer para atingí-los, porque já os obtinha antes.
Se estou correto, como já publiquei aqui mesmo no blog, em artigos anteriores, o efeito do Crescer na expansão da base de clientes atendidos é irrisório. E, se isto se confirmar, ficará evidente, como eu já disse várias vezes, que o Programa foi desenhado errado, investindo no canal de distribuição errado, baseado em premissas falsas.
Lamento que assim seja, mas enfatizo o que também já disse antes: não haverá verdadeira política de microcrédito produtivo orientado no Brasil se se tentar retê-la como privilégio dos bancos oficiais.
O microcrédito está crescendo, sim, no Brasil, mas tirando o BNB, pouquíssimo desse crescimento pode ser atribuído a méritos dos bancos públicos ou do governo.