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25.08.2011 - Correio Braziliense entrevista presidente do BNB, Jurandir Santiago
25/08/2011
Correio Braziliense -25/08/2011
Inspirado no programa de microcrédito do Banco do Nordeste do Brasil (BNB), o governo federal desenvolveu um projeto para todo o país com o objetivo de democratizar os empréstimos e financiamentos à população de mais baixa renda. A meta é atender parte dos 16 milhões de brasileiros classificados como extremamente pobres e ajudá-los a ter seu próprio negócio. A exemplo do ocorrido em Bangladesh no início no ano 2000, quando Muhammad Yunus fundou o Grameen Bank e desenvolveu o primeiro projeto de microcrédito do mundo — ele ganhou o Prêmio Nobel da Paz com a ideia —, o BNB e o governo federal tentam repetir a fórmula de sucesso. Ao Correio, Jurandir Santiago, presidente da instituição, conta como está sendo a execução do projeto no Nordeste. Faz ainda um balanço dos resultados obtidos até agora. "A nossa carteira soma R$ 912 milhões em financiamentos", afirma. Segundo ele, mais de 1,2 milhão de operações foram contratadas apenas em 2011, a um valor médio de R$ 800. "O BNB é um banco de fomento completo, financia desde um carrinho de pipoca até uma obra de infraestrutura mais complexa", garante. Leia os principais trechos da entrevista.
O microcrédito é um bom negócio para os bancos?
O projeto existe desde 1998, mas ganhou força a partir de 2003, quando passou a ter status de política de governo. Atualmente, a instituição realiza 8,1 mil contratos por dia, sendo que a maioria deles é de até R$ 1 mil. Trabalhamos com opções de financiamento que vão de R$ 100 a R$ 15 mil. E só temos a comemorar os resultados.
Qual o público do projeto?
Entre os principais clientes estão trabalhadores informais. O objetivo é ajudar as pessoas a crescer por meio do crédito e do próprio esforço, para que se formalizem e possam viver melhor. Normalmente, os projetos que as pessoas querem financiar são realmente pequenos. Por isso, os valores pedidos são tão baixos. Pode ser, por exemplo, para a compra de um carrinho de pipoca.
Mas os juros ainda não são altos?
Até ontem, o BNB oferecia microcrédito com taxas de 1,2% ao mês, já bem inferiores à média do mercado. Com o novo projeto do governo federal, abriremos uma nova carteira com juros de 0,64% mensais. Isso deve proporcionar um aumento significativo da nossa carteira, que, até o fim do ano, deve chegar com R$ 475 milhões. A carteira antiga, até julho, soma R$ 912 milhões, com um total de 1,2 milhão de operações.
Emprestar a pessoas de poucos recursos é um bom negócio? Qual é a taxa de inadimplência?
O atraso nos pagamentos é mínimo, de 0,9%, bem inferior à média do mercado (no crédito tradicional, a taxa é de 6,6%). Para garantir o bom funcionamento do programa, o BNB atua com 3,3 mil assessores em todas as regiões do Nordeste. Eles trabalham com os tomadores de empréstimo antes do contrato, acompanham a assinatura e prestam ajuda posteriormente, oferecendo cursos de capacitação para evitar que o microempreendimento não dê resultados.
O projeto do governo federal vai criar concorrentes para o BNB?
De forma alguma. Não vejo a entrada de mais bancos públicos nesse projeto como concorrência e, sim, como algo positivo. O que estamos fazendo é uma política social para tirar milhões de brasileiros da informalidade e da pobreza. Vejo a chegada de novos bancos como algo complementar. Se pensarmos na quantidade de pessoas no mercado informal de trabalho, que são quase 10 milhões, e compararmos ao público com acesso a crédito, constataremos que há muito para crescer. Apenas 6% desse total têm acesso a financiamentos.
Silvestre Lacerda – assessoria de imprensa AMCRED-SC – 20h38